A memória é uma coisa estranha. Esquece o
necessário e o desnecessário. Faz-nos acreditar no inexistente, na dimensão
irreal, quase não humana. Nunca fiz por me lembrar das coisas. Magoam-nos
demasiado para ficarmos a pensar nelas. Fazem as lágrimas brotar sem fim; de
ódio, de amor, tanto faz. Fazem-nos acreditar na felicidade eterna por causa de
momentos aleatórios, cartas outrora escritas e choradas, abraços esquecidos no
tempo sideral. A memória traz-nos a vida que queremos recordar. Mas também nos
recorda a que queremos esquecer. Não penso, apenas existo. Irreal na execução
da memória; eu, trabalho. Viverei apenas o momento que me permitirem;
ocorrerei, cansado da corrida, na essência do ser. Vivi o momento sem discrição
alguma. Permitia-me ao prazer intenso da atmosfera circundante. Em mim, o
sentimento descontente que não classificaria de forma alguma. O ser brota.
★ ★ ★
Caminhava lentamente, tendo como pano de fundo
a névoa do fim de tarde. Ouvi-a cada passo, um e outro, como de uma batida de
maestro se tratasse. Abstinha-me do que me rodeava, desde o barulho infernal
dos automóveis até ao suave respirar da ave que estava pousada numa árvore.
Concentrei-me num som apenas: ao longe, o mar bradava aos céus a imensidão da sua
força, naquele dia cinzento, mas nem por isso triste...
Inês Galamba de Oliveira
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