Wednesday, 7 May 2014

Caracterização da Memória (1)

A memória é uma coisa estranha. Esquece o necessário e o desnecessário. Faz-nos acreditar no inexistente, na dimensão irreal, quase não humana. Nunca fiz por me lembrar das coisas. Magoam-nos demasiado para ficarmos a pensar nelas. Fazem as lágrimas brotar sem fim; de ódio, de amor, tanto faz. Fazem-nos acreditar na felicidade eterna por causa de momentos aleatórios, cartas outrora escritas e choradas, abraços esquecidos no tempo sideral. A memória traz-nos a vida que queremos recordar. Mas também nos recorda a que queremos esquecer. Não penso, apenas existo. Irreal na execução da memória; eu, trabalho. Viverei apenas o momento que me permitirem; ocorrerei, cansado da corrida, na essência do ser. Vivi o momento sem discrição alguma. Permitia-me ao prazer intenso da atmosfera circundante. Em mim, o sentimento descontente que não classificaria de forma alguma. O ser brota.

       


Caminhava lentamente, tendo como pano de fundo a névoa do fim de tarde. Ouvi-a cada passo, um e outro, como de uma batida de maestro se tratasse. Abstinha-me do que me rodeava, desde o barulho infernal dos automóveis até ao suave respirar da ave que estava pousada numa árvore. Concentrei-me num som apenas: ao longe, o mar bradava aos céus a imensidão da sua força, naquele dia cinzento, mas nem por isso triste...

Inês Galamba de Oliveira

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