São quarto e quinze da manhã de dia quinze. Ponho caneta sobre papel a meia
luz. A linha, essa, é invisível sob a claridade do amanhecer.
É um tempo parado, uma imagem perdida no espaço, um conto vazio, ou um
pássaro abandonado. São nuvens despregadas do tempo e enlouquecidas ou
revoltadas. É um redemoinho de pensamentos, uma aflição de histórias
incontáveis, uma solução inaudível ao espaço presente e continuado.
A questão põe-se e sobre ela outro açaimo de verdade. O tempo percorre,
para, o que é? É um relógio esquecido no meio do espaço, os campos verdes
eternos promovendo liberdade. E essa, seria eterna?
Podia discursar solenemente sobre Ela. A liberdade humana de ser, apenas,
de poder acordar e abrir uma porta para o desconhecido, e com isso
possivelmente avançar sobre o mesmo. Mas e se a janela não abre? E se a única
ideia possível for a do pássaro desgovernado, em queda livre no abismo? E se a
tinta ao percorrer o papel não encontra linha medida e se perde? E se, e se, e
se...
O pássaro esse, ganha a corrida ao próprio tempo. O seu fim está próximo,
um embate violento e furioso com a pedra cinzenta do solo molhado de orvalho.
Coberto das lágrimas da manhã. O tempo aposta então na morte da liberdade
esfalfada e da queda livre.
Mas o pássaro, num segundo esbatido e momento parado, resolve e para. A
distância à morte certa atinge o impossível e de asas abertas, recua no próprio
tempo.
Esse, então recomeça do ponto estático. E de longe, entre palpitações
súbitas de coração, impõe-se a sombra majestosa das asas. E assim, do nada e do
eterno, o pássaro voará para sempre.
Em liberdade.
As lágrimas, essas, secaram.
Ines Galamba de Oliveira
(descobertas no baú...)
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