Sunday, 24 November 2013

Duzentas e Oitenta e Nove Palavras sobre Alguma Coisa, ao Acordar.


São quarto e quinze da manhã de dia quinze. Ponho caneta sobre papel a meia luz. A linha, essa, é invisível sob a claridade do amanhecer.
É um tempo parado, uma imagem perdida no espaço, um conto vazio, ou um pássaro abandonado. São nuvens despregadas do tempo e enlouquecidas ou revoltadas. É um redemoinho de pensamentos, uma aflição de histórias incontáveis, uma solução inaudível ao espaço presente e continuado.
A questão põe-se e sobre ela outro açaimo de verdade. O tempo percorre, para, o que é? É um relógio esquecido no meio do espaço, os campos verdes eternos promovendo liberdade. E essa, seria eterna?
Podia discursar solenemente sobre Ela. A liberdade humana de ser, apenas, de poder acordar e abrir uma porta para o desconhecido, e com isso possivelmente avançar sobre o mesmo. Mas e se a janela não abre? E se a única ideia possível for a do pássaro desgovernado, em queda livre no abismo? E se a tinta ao percorrer o papel não encontra linha medida e se perde? E se, e se, e se...
O pássaro esse, ganha a corrida ao próprio tempo. O seu fim está próximo, um embate violento e furioso com a pedra cinzenta do solo molhado de orvalho. Coberto das lágrimas da manhã. O tempo aposta então na morte da liberdade esfalfada e da queda livre.
Mas o pássaro, num segundo esbatido e momento parado, resolve e para. A distância à morte certa atinge o impossível e de asas abertas, recua no próprio tempo.
Esse, então recomeça do ponto estático. E de longe, entre palpitações súbitas de coração, impõe-se a sombra majestosa das asas. E assim, do nada e do eterno, o pássaro voará para sempre.
Em liberdade.
As lágrimas, essas, secaram.

Ines Galamba de Oliveira

(descobertas no baú...)

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